1. Os loucos da rua Mazur, por João Pinto Coelho
320 páginas • Leya
Eryk é um escritor famoso, mas está doente e precisa da memória do seu amigo de infância Yankel, um livreiro judeu, idoso e cego, para escrever o seu último livro. Os dois não se viam desde um terrível incidente na Segunda Guerra, durante a ocupação alemã na pequena cidade polonesa onde viviam. Ao longo do livro somos levados à sua comunidade natal, uma cidade, até então pacata, de cristãos e judeus, cujos habitantes revelam facetas cruéis, surpreendentemente mais bárbaras do que as de seus ocupantes soviéticos e alemães. Inspirado num episódio ocorrido em Jedwabne, pequena cidade do nordeste da Polônia, em julho de 1941 (e em tantas outras cidades com um similar antissemitismo), o livro é duro como o tema sugere. O tema em si já é sofrido demais ~ e talvez eu tenha escolhido uma época não muito adequada para ler: estava SUPER grávida, com os hormônios a mil. Aí já viu, né? Fiquei ainda mais fragilizada com a crueza da narrativa. Os acontecimentos retratados são altamente visuais ~ a gente demora a esquecer algumas “cenas”, especialmente as mais violentas. Levou (merecidamente) o Prêmio Leya em 2017.
•
2. Pós-F – Para além do masculino e do feminino, por Fernanda Young
128 páginas • Leya
A Fernanda Young é aquela pessoa que é (e curte ser) controversa, né? Eu, como uma jovem leitora na década de 90, já achei o trabalho dela super interessante, especialmente os seus três primeiros livros: Vergonha dos Pés, A Sombra das Vossas Asas e Cartas para Alguém Bem Perto (publicados pela Editora Objetiva em 1996, 1997 e 1998). Depois disso confesso que fiquei com um pé atrás, especialmente da sua persona televisiva, que me parecia sempre agressiva demais e focada em causar. Respeito demais esse nível de liberdade, de falar o que se pensa e de não fazer a menor questão de agradar ninguém, mas nossa… que preguiça! O Pós-F (pós-feminismo e/ou pós-Fernanda Young) é um apanhado de textos autobiográficos centrado no debate do que é ser masculino e feminino hoje. Os textos são de uma honestidade gritante e colocam o dedo em várias feridas (beleza, maternidade, assédio), mas, para mim, o discurso se perde pela ENORME falta de empatia da autora com o próximo. Do nível de dizer que mudar de sexo é uma precipitação (oi?). Outra pérola: ela afirma que, hoje, sente pena do homem ~ insira aqui uma gargalhada. Complicado.
♥
3. Mulheres do Brasil – A história não contada, por Paulo Rezzutti
320 páginas • Leya
Um livro sobre o papel da mulher na sociedade escrito por um homem? #estamosdeolho O próprio autor faz um mea culpa na introdução e pede licença para falar sobre essas mulheres, cujas histórias nunca chegaram a ser contadas (ou, na maioria dos casos, foram absolutamente descontextualizadas e diminuídas). Muito interessante ~ e gratificante demais ~ conhecer histórias de mulheres incríveis, que mudaram o rumo do Brasil com a sua garra e perseverança, negras escravizadas, indígenas, nobres, artistas, revolucionárias… A gente fica com um gostinho de quero-mais porque são apenas algumas poucas páginas por personalidade, mas fica aí a possibilidade de pesquisar mais e se aprofundar na história das mulheres que mais tocaram o nosso coração durante a leitura.
•
4. Elza, por Zeca Camargo
400 páginas • Leya
Não há dúvidas de que Elza Soares é uma das vozes mais emblemáticas do Brasil: é impossível não reconhecer a sua maneira singular de cantar e seu repertório de músicas/letras marcantes. Eu sempre soube, por alto, que a sua história de vida era recheada de casos dignos de nota (para dizer o mínimo), por isso estava super curiosa para ler essa biografia. De fato, a trajetória de Elza é espetacular, sua ascensão do “Planeta Fome” para os palcos de todo país (e do exterior!) é impressionante ~ mas a biografia peca por um motivo bem simples: a única voz ouvida pelo biógrafo é a da própria Elza. O livro, na verdade, faz parte de um projeto maior idealizado pelos empresários da artista (ou parceiros de trabalho, como ela prefere chamá-los) Juliano Almeida e Pedro Loureiro, e foi encomendado para o jornalista Zeca Camargo, que reuniu o material para o livro durante uma série de encontros com a cantora. O tom do livro acabou ficando MUITO comercial, uma espécie de ode a Elza, o contrário do que uma boa biografia deve ser. A escrita do Zeca Camargo também não ajuda muito ~ o primeiro parágrafo, onde ele “brinca” com uma série de palavras iniciadas pela letra z (zumbido, zoeira, zica, zonza etc.) é sofrível.
♥
O que vocês têm lido de bom ultimamente?
Confira outros títulos na Bibliolove – a biblioteca virtual do blog!