1. Um Artista do Mundo Flutuante, por Kazuo Ishiguro – tradução de José Rubens Siqueira
232 páginas • título original: An Artist of the Floating World • Companhia das Letras
Ambientado nos anos após a rendição do Japão (que levou ao fim da Segunda Guerra Mundial), o livro narra as memórias de Masuji Ono, um pintor de renome no passado, aposentado e em negociações para o casamento da filha mais nova. O protagonista relembra os seus dias de prestígio e influência antes e durante a guerra, ao mesmo tempo que lida com as mudanças sofridas pelo país, manifestadas na mentalidade da geração mais jovem (muito bem representada no livro pelas suas filhas e genros). A narrativa é leve e brilhantemente íntima, mesclando acontecimentos em tempo real com memórias recentes e outras mais remotas, formando um mosaico fascinante da vida do artista. Um retrato sensível do Japão pós-guerra e uma reflexão sobre o papel da arte como instrumento social e político. Meu primeiro contato com o autor, vencedor do Prêmio Nobel de literatura de 2017 e olha… gostei muito, viu? Animada para ler outros romances do Ishiguro.
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2. 4 3 2 1, por Paul Auster – tradução de Rubens Figueiredo
816 páginas • Companhia das Letras
Quais são as escolhas que estruturam e regem a vida de um indivíduo? Em 4 3 2 1, Paul Auster constrói 4 narrativas diferentes da vida de Archie Ferguson, 4 realidades distintas do mesmo personagem, com pequenas (mas importantes) diferenças entre si, que impactam substancialmente no percurso da sua existência. O autor trabalha questões como a influência do dinheiro e das relações familiares na construção do ego e brinca com o imenso e imprevisível poder do acaso no destino do personagem (o que nos faz inevitavelmente pensar no impacto do acaso na nossa própria vida). O projeto (e a premissa do livro) é, sem dúvida, muito intrigante ~ mas confesso que achei o personagem-chave Archie um tanto sem graça, em todas as suas 4 versões. Não sei, não consegui me empolgar com nenhuma das suas trajetórias e o protagonista, mesmo com fios condutores marcantes, me pareceu sempre um pouco apático e desinteressante (tendo o Archie de Manhattan uma certa vantagem em relação aos demais). Outros personagens acabaram me marcando mais durante a leitura, como as várias representações de sua mãe Rose e de sua amiga/meia-irmã/namorada Amy. O final é particularmente pouco inspirado ~ e não vou entrar em detalhes aqui ~ mas me pareceu uma solução que a gente já viu aplicada mil vezes na literatura. :/
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3. O Quarto de Giovanni, por James Baldwin – tradução de Paulo Henriques Britto
232 páginas • título original: Giovanni’s Room • Companhia das Letras
Enquanto espera pelo retorno da namorada em Paris, o jovem americano David conhece ~ e se apaixona ~ por Giovanni, um garçom italiano com um futuro trágico, já anunciado nas primeiras páginas do romance. Um clássico moderno da literatura gay, escrito por um dos mais importantes ativistas negros norte-americanos, engajado na luta racial e nas questões de sexualidade e identidade (assistam ‘I Am Not Your Negro‘ por favor!), o livro narra as angústias de David, em conflito com os seus próprios desejos e culpado pelo destino do amante. A trama é curta, mas intensa ~ e quase claustrofóbica, como o próprio quarto do Giovanni, onde os personagens passam boa parte do tempo. A história é parcialmente autobiográfica, inspirada no relacionamento do autor com o pintor suiço Lucien Happersberger em Paris no final dos anos 1940. Antes de torcer o nariz e achar que a temática “gay” não é a sua praia, saiba que o próprio James Baldwin descreveu o livro como “não exatamente sobre sexualidade, mas sobre o que acontece quando se tem medo de amar alguém, o que é muito mais interessante“. Sensacional, recomendo. (Curiosamente, o livro anterior, 4 3 2 1 do Paul Auster, menciona esse livro como uma das leituras do personagem Archie!)
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4. A Casa Dourada, por Salman Rushdie – tradução de José Rubens Siqueira
456 páginas • título original: The Golden House • Companhia das Letras
Nero Golden é um bilionário misterioso, que se muda para uma mansão no Greenwich Village em Manhattan com os três filhos adultos (e igualmente enigmáticos): Petya, Apu e D. A presença feminina na casa fica por conta da jovem russa, marcante e ambiciosa, Vasilisa Arsenyeva, que conquista o coração de Nero, tornando-se a soberana da casa. Quem narra a história é René, o vizinho cineasta que, com a desculpa de fazer um filme sobre os Golden, acaba se envolvendo intimamente nas questões mais problemáticas da família. Rushie constrói uma espécie de épico norte-americano moderno, misturando elementos mitológicos com cultura popular (especialmente referências cinematográficas, uma vez que o narrador é um jovem cineasta) e expondo as excentricidades e caprichos da bolha dos milionários nos EUA. O livro também é recheado de referências políticas atuais: começa no dia da posse de Barack Obama e acompanha a disputa política entre dois candidatos caricatos (com destaque para o “vilão” grotesco, claramente inspirado no Donald Trump). Um desses raros casos em que um autor escreve um livro sobre o momento exato em que ele está sendo escrito, com discussões super relevantes sobre política, pós-verdade e identidade de gênero, entre outros temas.
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Quais os planos de leitura de vocês para esse ano?
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