1. Floresta Escura, por Nicole Krauss – tradução de Sara Grünhagen
304 páginas • título original: Forest Dark: A Novel • Companhia das Letras
Duas pessoas em fases completamente diferentes de suas vidas: Jules, um advogado aposentado, se desfazendo de todos os bens materiais que conquistou ao longo da vida e Nicole, uma jovem romancista, no meio de um bloqueio criativo e de uma crise no casamento. Mesmo não se conhecendo, os dois compartilham o desejo de auto-conhecimento e um questionamento profundo a respeito da sua própria existência ~ além de histórias que se cruzam no hotel Hilton de Tel Aviv. Um dos aspectos mais interessantes desse romance é que a vida da personagem Nicole tem um paralelo inegável com a vida da autora. Além de compartilharem o mesmo nome, elas também “dividem” alguns elementos-chave de suas vidas: ambas passaram por extensos bloqueios criativos (Floresta Escura é o primeiro romance de Nicole Krauss em sete anos) e por crises no casamento (a autora se divorciou do escritor Jonathan Safran Foer há alguns anos). Nicole brinca com essa questão da identidade durante todo o livro, reforçando um dos seus temas centrais: como estar em dois lugares ao mesmo tempo. O resultado é um romance complexo e bem-humorado sobre desconexão e metamorfose. E com pitadas de cultura judaica, o que é sempre muito interessante, especialmente para não-entendidos no assunto, como eu. Recomendo.
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2. Obra Completa, por Raduan Nassar
464 páginas • Companhia das Letras
Raduan Nassar escreveu apenas dois livros, ambos na década de 70, antes de abandonar a literatura para viver como fazendeiro no interior de São Paulo. São dois romances curtos – Lavoura Arcaica e Um Copo de Cólera – mas o que eles têm de breve, eles têm de intenso, impactante e genial. Sem dúvida uma das prosas mais poéticas que eu já li em toda minha vida. Lavoura Arcaica conta a história de André, filho de um patriarca rural, atormentado por sentimentos incestuosos em relação a uma de suas irmãs. O livro teve uma adaptação belíssima para o cinema em 2001, com Selton Mello e Raul Cortez (um desses casos raros em que o filme enriquece ainda mais a experiência literária). Em Um Copo de Cólera, o narrador é um agricultor recluso que, durante uma visita de sua amante, percebe uma colônia de formigas destruindo a cerca viva de sua fazenda. A descoberta provoca uma súbida mudança de humor e o casal inicia uma violenta troca de ofensas, que se intensifica à medida que a história avança. O livro conta ainda com alguns contos (dois deles nunca antes publicados) e um ensaio interessantíssimo sobre a cultura brasileira e a identidade nacional. Em 2016 Nassar, então com 81 anos, recebeu o principal prêmio da literatura em língua portuguesa, o Camões, para a sua surpresa: “Eu não entendi esse prêmio, minha obra é um livro e meio!“. A gente entendeu Raduan, a gente entendeu. ;)
« Leiam também essa matéria excelente do Alejandro Chacoff sobre o Raduan Nassar para o The New Yorker. »
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3. Os Románov, por Simon Sebag Montefiore
tradução de Denise Bottmann, Donaldson M. Garschagen, Claudio Carina, Renata Guerra e Rogério W. Galindo
944 páginas • título original: The Romanovs • Companhia das Letras
Que livrão maravilhoso! Realmente imperdível para quem se interessa pela história russa, ou por história de maneira geral. Baseado numa pesquisa recente e ultra meticulosa, o autor esmiuça os mais de 300 anos do império dos Románov, a dinastia mais bem-sucedida dos tempos modernos, que chegou a governar um sexto da superfície da Terra. Quem precisa de ficção com uma história verídica TÃO SURREAL? Segundo o Financial Times, por exemplo, comparados a esse livro, “os relatos de Game of Thrones vão parecer leves“. Não dá para discordar. Conspirações, rivalidades, assassinatos, torturas, bebedeiras, excessos sexuais e alcoólicos, charlatões, repressão e revolta, entre MUITOS outros temas fascinantes (e extravagantes). Basicamente, a história da autocracia russa contada a partir dos corredores do poder. Eu praticamente respirei o livro (apesar das quase mil páginas) e indico demais.
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4. O Romance Luminoso, por Mario Levrero – tradução de Antônio Xerxenesky
648 páginas • título original: La Novela Luminosa • Companhia das Letras
No ano 2000, o escritor uruguaio Mario Levrero recebeu uma bolsa da Fundação Guggenheim para terminar de escrever O Romance Luminoso, livro que ele havia iniciado na década de 80. Com o incentivo da bolsa, Levrero se lança na escrita febril de um diário que, teoricamente, o ajudaria a resgatar o hábito de escrever diariamente. Esse diário, um relato obsessivo da sua procrastinação e do seu fracasso, acaba por se transformar no tão buscado romance luminoso. O livro narra em detalhes suas manias, fobias e superstições (transtornos do sono, vício em computador, hipocondria, entre outros), expondo de maneira brilhante as confusões e as genialidades cotidianas de um homem de sessenta anos. É um romance sobre o desejo de escrever um romance e, mais importante, sobre a incapacidade de escrever um romance. É trágico e espirituoso ao mesmo tempo, uma experiência literária singular e excepcional.
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