Um livro que me encantou pela inusitada abordagem de uma das coisas mais simples e rotineiras que se pode imaginar: um filho ajuda o pai a separar as roupas sujas na área de serviço ~ é esse o começo de uma história que ilustra lindamente o poder da imaginação de uma criança.
Antes de conhecer a história mais a fundo, o que me chamou atenção foi a capa. O meu filho sempre teve um fascínio pela máquina de lavar, ouvia o seu barulho de longe e, antes de saber andar, pedia colo para ver de perto as roupas sacolejando lá dentro. Uma coisa realmente cômica. Mas eu acabei dando sorte porque a história é uma graça e quem tem criança pequena certamente vai se identificar.
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Um pequeno parênteses antes de continuar a resenha: muito bom ver um personagem masculino, o pai, participando de forma ativa do trabalho doméstico ~ o que infelizmente ainda é bastante incomum na literatura infantil. Eu, que leio MUITO para o meu filho, estou cansada de ver as personagens femininas assando bolinhos na cozinha, enquanto os homens fazem atividades mais enérgicas (geralmente do lado de fora) ou simplesmente leem o jornal na poltrona da sala. 2021, né gente? Não dá mais para perpetuar esse discurso. Mas sigamos em frente! :)
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Durante a triagem das roupas sujas (as brancas no montinho da esquerda, as coloridas no da direita, as meias separadas do resto), o pai de Jim encontra alguns objetos no bolso da calça do filho e já estava pronto para jogar tudo no lixo quando Jim o interrompe: Não! Eu ainda preciso de tudo isso!
Na imaginação de Jim, uma chavezinha torta e enferrujada é a chave de uma mala enorme, de um feiticeiro muito malvado, que precisa ser escondida a todo custo. Agora o pai, curioso, quer saber a origem dos outros objetos, pra ele tão banais, mas claramente preciosos para o filho.
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O botão com o desenho de uma âncora não é um botão qualquer: pertenceu ao paletó de um capitão que já deu três voltas ao mundo; a pedrinha pontuda é, na verdade, o cume de uma montanha, mordida por um gigante. A imaginação de Jim é livre, espontânea ~ é bonito ver como ele vai fazendo associações entre as histórias, como ele já possui todo um universo profundo e particular.
E eu percebo que é assim mesmo com o meu filho, como pequenas coisas, insignificantes para um olhar “adulto”, podem ser muito ricas para o seu pequeno-grande mundo. Que maravilha ter esse imaginário tão solto, essa liberdade do pensar e do sonhar. Uma pena muitos de nós (acho que a maioria de nós) perdermos esse super-poder à medida que vamos crescendo.
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Jim e seus pequenos tesouros. ♥
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Eu ainda preciso de tudo isso!, por Petra Postert e ilustrado por Jens Rassmus
36 páginas • SESI-SP Editora
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