Lindíssimas ilustrações da talentosa Laila Ekboir, inspiradas em Tigre, município da província de Buenos Aires e o refúgio natural mais próximo para quem mora na capital argentina.
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Já estive algumas vezes na Argentina, mas nunca fui até Tigre. Alguém já conheceu?
A saga de Rong Jinzhen, um gênio da matemática que desde criança já interpretava sonhos, dedicado a explorar os mistérios do cérebro humano, mas que acaba recrutado pela inteligência chinesa para trabalhar como criptógrafo. Ufa! Achei que esse tema poderia ser um tanto assustador (especialmente para uma mente NADA matemática como a minha), mas não foi o caso. A criptografia é descrita no livro não como a simples conversão de um texto legível em um texto cifrado, mas como o embate supremo entre dois gênios, onde cada um se esforça para entender o pensamento do outro e decifrar o seu segredo oculto. Embora instigante, os detalhes sobre o trabalho de Jinzhen desvendando códigos ficam em segundo plano, ofuscados pelo brilhante estudo psicológico do personagem: a narração da sua vida, seu núcleo familiar e, eventualmente, sua tragédia pessoal, que o leva à loucura. O texto, que mistura depoimentos, cartas e transcrições, flui com o frescor e o fascínio de uma fábula. Mai Jia termina muitos dos seus capítulos com verdadeiros cliffhangers, cenas concebidas para prender o leitor e despertar o seu interesse no que está por vir (como os contadores de histórias chinesas fazem há séculos). Super funcionou para mim, posso dizer que o enigma de Jinzhen (e de toda a família Rong) me prendeu até o final.
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2. Caderno Proibido, por Alba de Céspedes – tradução de Joana Angélica d’Avila Melo 288 páginas • título original: Quaderno proibito • Companhia das Letras
Valeria Cossati é dona de casa, mãe, esposa e funcionária de escritório. Vive a rotina típica de uma dona de casa em Roma nos anos 50. Até que ela compra um caderno e o transforma num diário secreto. Passa a anotar as suas impressões sobre o marido, a relação conturbada com os filhos, queixas e desejos que nem ela sabia que levava guardado dentro de si. O diário a atrai e a intimida, bagunça a monotonia do seu cotidiano. O hábito da escrita começa a transformar a maneira como ela encara a vida, em especial como ela encara a PRÓPRIA vida. Um sensacional romance de autoanálise ~ eu torci pela Valeria, senti uma enorme compaixão por ela e um pouco de raiva também. O livro faz um trabalho primoroso ao retratar a vida de uma família da médio burguesia italiana nos anos 50, com toda a sua banalidade, todo o seu preconceito, seus conflitos geracionais e traumas do passado. E, apesar da distância (local e temporal), a abordagem a respeito do papel da mulher na sociedade é dolorosamente atual. Eu adorei, não consegui parar de ler.
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3. Jovens Heróis da União Soviética, por Alex Halberstadt – tradução de Otacílio Nunes 360 páginas • título original: Young Heroes of the Soviet Union • Objetiva
Nesse livro que mistura biografia e história, o jornalista Alex Halberstadt investiga a própria família para encontrar respostas para questões que ele propositalmente ignorou por anos, desde a sua saída da União Soviética com sua mãe e os pais dela em 1980, quando tinha apenas 10 anos. Alex decide sair de sua casa em Nova York e visitar Vassily, seu avó paterno de 90 anos, um homem misterioso que trabalhou em Lubyanka (a famosa sede do KGB/prisão) por vários anos antes de se tornar um dos guarda-costas de Stálin, talvez seu último guarda-costas vivo. Reencontra também o pai, um fervoroso anticomunista na juventude, que contrabandeava artigos da cultura pop americana no mercado negro (basicamente discos de jazz e calças jeans), mas que nunca manteve uma relação muito próxima com o filho, tirando uma ou outra ligação telefônica ao longo dos anos. O jornalista também explora a teoria da herança do trauma, que atesta que o sofrimento se inscreve em nosso código genético e é passado de geração em geração; vai sendo transmitido de pai para filho mesmo que eles não tenham contato direto. A hipótese é realmente interessantíssima, mas o livro se destaca mesmo pela capacidade do autor de retraçar a vida dos seus pais e avós como uma forma de entender melhor a sua. Sua investigação a respeito da família materna, judeus lituanos sobreviventes da ocupação nazista que matou 95% da população judaica da Lituânia, é particularmente curiosa e comovente.
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4. O Rei Pálido, por David Foster Wallace – tradução de Caetano W. Galindo 608 páginas • título original: The Pale King • Companhia das Letras
O Rei Pálido é um romance inacabado, um livro póstumo do gigante David Foster Wallace, autor de Graça Infinita, considerado por muitos o último grande romance do século XX. Seu texto foi reunido pelo editor de Wallace, Michael Pietsch, a partir de páginas e notas que o autor deixou para trás quando cometeu suicídio em 2008. Em linhas gerais, trata-se de um pseudo livro de memórias que reúne histórias de vários funcionários da Receita Federal e que esmiúça detalhes sobre o código tributário dos Estados Unidos. Esse cenário é um pretexto para falar sobre os “verdadeiros” temas do romance: tristeza, solidão e tédio. Sobre a complexidade irrelevante de alguns aspectos das nossas vidas que não são nunca mencionados. Não é um livro fácil ~ eu alternei entre ficar verdadeiramente fascinada com alguns trechos do livro e absolutamente entediada com outros. Como o próprio Wallace deixou registrado em suas anotações, o livro parece ser uma série de preparações para que as coisas aconteçam sem que nada jamais aconteça. Uma leitura que, mesmo sendo muito difícil de definir ou categorizar, me deixou super impressionada (e empolgada para ler Graça Infinita, que ainda não li).
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O que vocês andam lendo de bom por aí? Me contem nos comentários! Confira outros títulos na Bibliolove – a biblioteca virtual do blog. :)
Uma seleção de belíssimos produtos da Goodies, uma loja na Califórnia que vende utensílios e itens de decoração por até 25 dólares. Tudo de muito bom gosto, não acharam?
Caiu do céu em uma quinta-feira. Ninguém sabia de onde vinha. Ninguém sabia o que poderia ser. Mas todo mundo concordou que era a coisa mais incrível que já tinham visto.
A rotina de um jardim e de seus pequenos moradores é perturbada quando um estranho objeto redondo e colorido cai do céu. Seria uma bola de chiclete? Talvez uma estrela cadente (ou até mesmo um pequeno planeta). Alguém duvidou que ela tivesse caído do céu, só poderia ter surgido do chão, como uma flor. Cada bichinho vai dando a sua opinião ~ e é claro que nenhum deles poderia adivinhar que se tratava mesmo de uma linda bolinha de gude.
O mais curioso (e engraçado) é que nem o meu filho adivinhou do que se tratava o objeto. Também pudera, nunca viu uma bolinha de gude na vida, olha só que absurdo! Tive que explicar para ele o que era e como se joga. Onde é que se vende bolinha de gude hoje em dia gente, alguém sabe? Essas crianças modernas não sabem de nada mesmo… hahaha! ;)
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Para a surpresa de todos, na manhã seguinte o esperto Senhor Aranha começa a afirmar que a Maravilha do Céu é dele e, pasmem, começa a cobrar ingressos para exibi-la. No começo foi uma folha por pessoa, depois o valor aumentou para duas. Quanto mais as filas cresciam, maior o preço do ingresso. Não tinha mesmo como isso dar certo por muito tempo.
Depois que a Maravilha é levada de volta para o céu por uma criatura de cinco patas (a mãozinha de uma criança, muito gracinha!), o Senhor Aranha se vê sozinho, sem ajuda para recomeçar. Mas como não existe criatura mais paciente do que uma aranha, ele vai descobrir uma maneira de dar a volta por cima e atrair novamente a sua clientela.
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As ilustrações dos irmãos Fan são incríveis. Eles privilegiam o preto e branco para destacar a beleza e o exotismo da bolinha de gude (e de diferentes elementos ao longo da história, como as folhas de “pagamento” e outras maravilhas do céu). Os animais são ao mesmo tempo realistas e lúdicos e as paisagens noturnas são especialmente bonitas, com o clarão da lua e o brilho dos vaga-lumes. O livro tem uma estética um pouco mais escura e carregada do que estamos acostumados dentro do universo infantil, mas nem por isso menos interessante e sedutora. Eu gostei muito.
A história tem como primeiro elemento a brincadeira de achar graça do que os animais imaginam ser a Maravilha do Céu (e ajuda muito se a criança estiver familiarizada com uma bolinha de gude, não preciso nem falar, né?). Em seguida somos apresentados a um segundo tema, da ganância e da exploração, quando o personagem do Senhor Aranha vê no objeto desconhecido uma maneira de explorar os demais e lucrar.
O mais curioso é que o final da história pode ser interpretado de duas formas. O Senhor Aranha acaba descobrindo uma maneira de capturar novas maravilhas do céu ~ mas não fica claro se ele vai continuar explorando a ingenuidade dos outros animais ou não. Eu acabo privilegiando um final mais feliz nas leituras para o meu filho, mas a verdade é que eu acredito que os autores tenham insinuado um desfecho mais “vida real” mesmo para a história, usando o Senhor Aranha para expor sutilmente o caráter explorador do capitalismo.
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Quem tiver interesse em conhecer o livro por dentro e não tiver uma livraria por perto, pode assistir a esse vídeo dos autores lendo a história (em inglês). A edição brasileira da Catapulta Junior é super bonita, tem formato grande (25 x 25 cm) e capa dura.
As mochilinhas da State foram criadas para o público infantil, mas vai dizer que você não ia amar sair por aí com uma dessas? Muito lindinhas (e eu adoro esse formato mini)!
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