Rosa Marijn Oostveen é a designer por trás do Atelier VANROSA e a criadora desses maravilhosos colares de croissant. Eu amei essa versão pequenininha, mas também existe um modelo bem grandão, para quem curte uma peça mais ousada.
Nicolas é um jovem psiquiatra francês que se muda para uma minúscula e isolada vila na Suíça após o término da Segunda Guerra Mundial. É através das conversas com seus pacientes, a maioria lidando com traumas do pós-guerra, que ele vai se dando conta das próprias feridas ~ e da real possibilidade de estar pessoalmente afetado pelos distúrbios que julga não ser mais capaz de tratar nos seus pacientes. Paralelamente, o romance lida com o contraponto entre a ciência e o poder da psicanálise: as primeiras drogas contra a depressão (e outras doenças psíquicas) estão surgindo, mas Nicolas é reticente, não acredita que um remédio seria capaz de curar os transtornos da mente. As discussões sobre os traumas deixados pelo fascismo, sobre a tal tristeza infinita que não reconhece fronteiras, são absolutamente fascinantes e me atingiram em cheio como leitora, 70 anos depois, fragilizada pelos mesmos fantasmas do autoritarismo e da violência. Um livro introspectivo e riquíssimo, de temas e referências. Gostei muito.
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2. Luz em Agosto, por William Faulkner – tradução de Celso Mauro Paciornik 472 páginas • título original: Light in August • Companhia das Letras
As histórias de dois personagens trágicos e fortes (cada um a sua maneira) se cruzam nessa narrativa ambientada no sul dos Estados Unidos, na década de 30. Lena Grove é uma jovem grávida, que percorre o país sozinha e a pé em busca do pai da criança, que prometeu buscá-la quando se estabelecesse numa nova cidade, mas nunca deu notícias. Joe Christmas é um homem que se passa por branco aos olhos da sociedade, mas que desconfia ter origem negra. Um homem que frequentemente usa a violência para fugir de seus conflitos internos, especialmente contra as pessoas que tentam mudá-lo. Fiquei impressionadíssima com a construção dos personagens nesse livro icônico do Faulkner. A gente vai desvendando os detalhes das vidas de cada personagem, num primeiro momento, pelo que os outros tem a dizer sobre eles ~ mas descobre ao longo da narrativa que as aparências escondem preconceitos e ódios, que nada é tão simples quanto parece ser. O passado tem um peso quase real, que mantêm todos presos a antigos traumas, em rumo a uma decadência que parece inevitável. Paradoxalmente, o livro tem uma aura de poesia e de esperança ~ e o final divide opiniões: alguns enxergam redenção, enquanto outros identificam uma certa dose de ironia e as cicatrizes imutáveis dos conflitos raciais e sociais.
Eu já era fã do Ney Matogrosso, por todo o seu talento e pela sua ousadia, mesmo antes de conhecer a fundo a sua história e a sua trajetória como artista. Posso dizer que, depois de ler essa biografia admiro-o ainda mais. Escrita de maneira terna e eloquente pelo repórter e crítico de música Julio Maria, o texto flui de maneira prazerosa, mesmo quando entra em detalhes técnicos de shows e de escolha de repertório (o que pode ser repetitivo e, consequentemente, cansativo, se feito de maneira mecânica). Por não acompanhar de perto a carreira de Ney, desconhecia fatos incríveis e admiráveis, como sua passagem pelo teatro na juventude e seu sucesso na direção de shows icônicos da história do rock nacional: ‘Rádio Pirata’ do RPM em 1986 e a última turnê de Cazuza ‘O Tempo não Para’ em 1988. Uma biografia incompleta, é claro. Ney completou 80 anos em agosto de 2021 e, tenho certeza, ainda tem muito o que conquistar e mostrar ao mundo.
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4. Senhor das Moscas, por William Golding – tradução de Sergio Flaksman 216 páginas • título original: Lord of the flies • Alfaguara
Durante uma guerra nuclear um grupo de garotos britânicos que estava sendo evacuado para um local desconhecido fica preso numa ilha, após um desastre de avião. Com idades entre 6 e 12 anos, os meninos elegem um líder e tentam estabelecer regras, mas o ambiente isolado, não civilizado e sem supervisão acaba se tornando palco de uma disputa pelo poder que tem tudo para terminar em tragédia. Considerado um dos romances essenciais da literatura mundial, de alguma forma o livro tinha ficado fora do meu radar por todos esses anos. Não me entendam mal, eu SUPER entendi como a narrativa explora o lado sombrio da humanidade, o abandono dos valores da civilização, a escalada da violência etc., MAS achei a história um pouquinho arrastada e maçante, especialmente o meio. Também estranhei a escolha do autor por retratar apenas meninos e, depois de uma breve pesquisa, descobri que ele já havia se manifestado a respeito (claro): disse que “as mulheres são muito superiores aos homens e sempre foram” (aham), mas que “uma coisa que você não pode fazer é transformar um grupo de meninas numa espécie de imagem da civilização, da sociedade (oi? porque não? não foi exatamente isso que você fez com um grupo de meninos?). Também me incomodou o fato de que a única menção a algo feminino é quando o personagem Jack diz que os meninos pequenos “não caçam, não constroem nem ajudam em nada, são só um monte de mulherzinhas choronas“. Enfim, sexism alert. Eu adoro um livro clássico, mas acho importante ler com uma certa dose de reserva e atenção, lembrando que, sim, os tempos eram outros (o livro foi lançado pela primeira vez em 1954), mas a gente não precisa fingir que não viu quando algo nos deixa desconfortável.
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O que vocês têm lido de bom ultimamente? Confira outros títulos na Bibliolove – a biblioteca virtual do blog!
Uma dessas collabs perfeitas, que a gente fica desejando ver de pertinho: Milkshake, da artista/artesã Beci Orpin para a rede de lojas australiana Myer. As estampas coloridas (e divertidas) são a cara da Beci e eu amei especialmente as caixinhas/tupperware para lanche, tão lindas! *-*
Taí o meu tipo de boutique: uma boutique do pão. *-*
A Dorbolò La Gubana Boutique é uma padaria e café localizada na comuna de Udine, na Itália, especializada em Gubana, uma sobremesa típica da região do Valli del Natisone, tradicionalmente preparada em casa para grandes ocasiões. Diz-se que a Gubana data de 1.400 anos atrás e que foi trazida para esta região pelos povos de origem eslava. As donas da padaria, Jessica e Joelle Dorbolo, herdaram a receita da avó Antonia.
Não sei o que eu achei mais maravilhoso: a cara dos pães e das sobremesas desse lugar ou o seu estilo minimalista, com as vitrines de mármore e as mesas redondinhas com pernas que se encaixam nos assentos. Perfeição.
Imagine só como deve ser difícil fazer amizade com uma pessoa que nunca conseguimos alcançar, que está sempre um passo na nossa frente! O livro Diga oi ao homem invisível brinca justamente com essa possibilidade e transforma a leitura num divertido jogo de esconde-esconde entre o protagonista e os leitores.
O homem invisível é muito rápido ~ parece que sempre acabou de sair de cena. Só conseguimos ter pequenos vislumbres da sua presença: ele acabou de sair da sala (mas deixou a porta entreaberta), estava nadando na piscina (mas só conseguimos ver o movimento da água) e assim por diante.
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Foi por pouco… ele acabou de ir embora desta festa!
O livro incentiva a interação das crianças: em alguns momentos elas tomam parte da ação, dizendo um oi bem alto ou fazendo silêncio (dependendo da situação), soprando uma xícara de chá, que estava muito quente e queimou a língua do homem invisível etc. Sucesso total aqui em casa, o meu pequeno está adorando esse jogo de gato & rato com o personagem, gosta especialmente dos momentos que precisa falar bem alto (claro!) e não parece ficar decepcionado quando o homem invisível não aparece no final*.
*alerta de spoiler: no final do livro, nós, leitores, deixamos um bilhete para o homem invisível na mesa de café, na esperança que ele venha nos visitar um dia desses. Eu, particularmente, achei simpático. :)
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As ilustrações da Ana Matsusaki são simplesmente incríveis. Minimalistas na medida certa, instigam a curiosidade e resumem perfeitamente cada situação criada pelo autor, deixando espaço suficiente para que as crianças preencham com a sua própria imaginação e fantasia. Dá para sentir o “movimento” do homem invisível em cada imagem: nos olhares das pessoas na sala de cinema e na festa, na fumacinha do ônibus que acabou de levá-lo embora, nas pegadas que ele deixou na chuva… Um deleite para os olhos.
Diga oi ao homem invisível faz parte da Coleção Trupe-Trinques da Editora do Brasil. E já virou uma leitura favorita aqui em casa. :)
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