A Menina e o Leão

Louise poderia ser uma menina como tantas outras, mas ela possui algo diferente: um enorme leão dourado, que mora em seu apartamento e a acompanha em todos os lugares. Ele lhe dá conforto, segurança, uma sensação de que nada ruim pode lhe acontecer.

Quando um caminhão de mudança estaciona na frente do seu prédio, Louise descobre que o seu novo vizinho é um caçador de grandes animais selvagens. E agora? O que será do seu amigo leão?

A menina e o leão, por Kim Fupz Aakeson e ilustrado por Julie Völk | Não Me Mande Flores

Para nós, leitores adultos, fica claro desde o princípio que o leão é, na verdade, uma espécie de amigo imaginário que protege Louise dos seus medos ~ mas que também acaba afastando a menina de possibilidades reais de relacionamento e amizade. Ela está tão confortável com o seu leão, que acaba esquecendo o nome dos seus coleguinhas de classe e os chama simplesmente de ‘crianças’.

O tom do livro é quase triste. O início da história mostra um padrão de negligência e ausência por parte das pessoas que mais deveriam se importar com Louise: o professor, que “age como se ela não estivesse na sala, como se ela não existisse” e a mãe, que “sempre diz que precisa sair correndo para o trabalho ou para algum encontro” e deixa a comida na cozinha, coberta com papel-alumínio, com um bilhete dizendo que vai voltar tarde. De cortar o coração.

A menina e o leão, por Kim Fupz Aakeson e ilustrado por Julie Völk | Não Me Mande Flores

Achei que a chegada do novo vizinho ~ que, é claro, não é um caçador e sim um menino que quer a amizade de Louise ~ pode ser um pouco confusa, especialmente para crianças pequenas. Louise, com sua imaginação fértil, “vê” caixas de armamento serem descarregadas e “ouve” um barulho constante das armas sendo carregadas. O medo que ela sente é tão grande que ela se tranca (com o leão) no armário, achando que o caçador vai “matá-lo e pendurar sua cabeça na parede“. A gente entende a analogia, mas o meu filho de 3 anos, por exemplo, teve um pouquinho mais de dificuldade de fazer essa interpretação mais solta, menos literal.

Dito isso, o livro é SUPER sensível e bonito. Lida sim com temas pesados como tristeza, isolamento e desemparo, mas o final é redentor e esperançoso. O leão desaparece (talvez já esteja deitado na savana, exibindo-se para os outros leões), Louise toma um chocolate-quente com o novo amigo e as crianças acenam para ela do pátio. A sensação é de que tudo vai ficar bem, graças ao poder transformador da amizade.

A menina e o leão, por Kim Fupz Aakeson e ilustrado por Julie Völk | Não Me Mande Flores

Escrito pelo dinamarquês Kim Fupz Aakeson, A Menina e o Leão é o trabalho de estreia da ilustradora Julie Völk ~ a dupla levou os prêmios Serafina em 2014 e o Troisdorfer Picture Book Prize em 2015, na Alemanha. O traço da Julie é simplesmente encantador e confere um ar de poesia para essa história, já tão carregada de sensibilidade. Cada ilustração tem muito a dizer e detalhes infinitos. Um exemplo simpático é, quando Louise está isolada com seu leão na hora do recreio, podemos perceber uma outra criança afastada, junto ao seu dragão (ou medo) de estimação. Uma lembrança sutil, mas poderosa, de que não estamos sozinhos nas nossas dores e ansiedades.

A Menina e o Leão, por Kim Fupz Aakeson e ilustrado por Julie Völk
32 páginas • SESI-SP Editora

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O jardim de Monet em Vétheuil

The Artist's Garden at Vétheuil, 1881 | Claude Monet

The Artist’s Garden at VétheuilClaude Monet • 1881

Monet plantava jardins onde quer que vivesse. Quando alugou esta casa em Vétheuil, fez arranjos com o proprietário para ajardinar os terraços, que desciam até o Sena. Os grandes vasos de flores eram de Monet e ele os levava consigo cada vez que se mudava, usando-os em outros jardins.

O menino em primeiro plano é o filho mais novo de Monet e nos degraus atrás dele estão outros membros de sua família.

∴ info ∴
via National Gallery of Art.

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Dreams

Lauriane Bueb HOME 80
Lauriane Bueb HOME 80
Lauriane Bueb HOME 80
Lauriane Bueb HOME 80

Não consigo imaginar nada melhor do que essa cama linda e aconchegante: o que isso diz sobre mim?

#sleepismysuperpower

꒰ᵕ༚ᵕ꒱ ♥

∴ info ∴
A cama é da diretora de arte e fotógrafa Lauriane Bueb.
Outros destaques: a luminária é a Panthella by Louis Poulsen & o quadro é o You by Sofia Lind.

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Os quatro últimos… livros

Mini-resenhas dos livros: Ritos de Passagem (William Golding) e Motivos e Razões para Matar e Morrer (Reginaldo Prandi) | Não Me Mande Flores

1. Ritos de Passagem, por William Golding – tradução de Roberto Grey
216 páginas • título original: Rites of PassageAlfaguara

Minha segunda tentativa com um livro do autor ~ eu li recentemente o Senhor das Moscas, mas a experiência não foi muito positiva, infelizmente. Ritos de Passagem ganhou o Booker Prize em 1980, então a minha expectativa era super alta. A narrativa se dá na forma de um diário escrito pelo jovem dândi Edmund Talbot, que viaja num velho navio de guerra da marinha inglesa a caminho da Austrália, no início do século XIX. Os textos têm como objetivo informar e divertir o padrinho de Edmund na Inglaterra e, à princípio, tratam de temas leves e “divertidos”, como fofocas dos passageiros, marujos e oficiais e detalhes de suas aventuras sexuais à bordo. Um certo reverendo Colley começa a aparecer no diário, sempre ridicularizado por Edmund pela sua excentricidade e pelo seu desejo constante de agradar. É só quando o reverendo morre, de humilhação e vergonha, que percebemos que algo está BEM errado nessa história. Achei o livro bem morno, cheio de anedotas navais (que, particularmente não me interessam muito) e é só na parte final, no seu clímax de violência, que a narrativa se torna mais viva e impactante. O curioso é que eu tive exatamente essa mesma impressão de Senhor das Moscas, seu livro mais icônico. Para mim, foi a prova de que um autor ou livro premiado não necessariamente vai fazer a sua cabeça ~ e tudo bem. :)

2. Motivos e razões para matar e morrer, por Reginaldo Prandi
336 páginas • Companhia das Letras

Inicialmente, o que me chamou atenção a respeito desse livro foi, sem dúvida, o seu título super dramático e a perspectiva de uma história cheia de intriga e mistério ambientada no interior do Brasil na década de 50, conforme sugeria a sinopse. Eu tinha acabado de ler um livro com esse mesmo clima de cidade pequena, o excelente Crônica da Casa Assassinada do Lúcio Cardoso e achei que pudesse ter uma nova experiência positiva com essa temática bem brasileira. Infelizmente não foi o caso. A história é fraca e os arcos dos personagens não são suficientemente construídos, tornando-os caricatos. O livro tem um narrador onisciente, mas por algum motivo inexplicável, o autor decidiu colocar várias informações importantes a respeito do passado da cidade e dos personagens no meio dos diálogos, que acabaram soando absolutamente falsos. As revelações sobre as mortes que acontecem na cidade (12 no total) e outras “surpresas” ao longo da narrativa são fantasiosas demais, soluções quase pueris. Enfim, não rolou pra mim MESMO.

Mini-resenhas dos livros: Sua alteza real (Thomas Mann) e Carrie (Stephen King) | Não Me Mande Flores

3. Sua alteza real, por Thomas Mann – tradução de Luís S. Krausz
344 páginas • título original: Königliche HoheitCompanhia das Letras

Um mergulho na história do (fictício) grão-ducado de Grimmburg, uma dinastia decadente, cujos cofres monárquicos se encontram vazios, sem o mínimo do capital necessário para manter as estruturas do Estado. Klaus Heinrick, um dos príncipes-herdeiros, vive protegido dos problemas reais do povo e se sente cada vez mais sufocado pelo ritualismo vazio da sua existência. A chegada de um bilionário americano na região ~ e de sua excêntrica e sarcástica filha Imma Spoelmann ~ expõe o príncipe a uma nova mentalidade e a um novo tipo de poder, baseado não na dignidade e na nobreza inata e sim no pragmatismo do mundo materialista. A narrativa é riquíssima em detalhes, do cotidiano da corte aos pormenores da sua precária situação econômica. E o forte do livro é justamente esse, uma vez que o desenrolar da história é bem previsível e a grande dúvida/pergunta que acompanha o príncipe é até anunciada nas sinopses e resumos: seria um casamento fora do círculo aristocrático a solução para a ruína do Estado? Eu gostei da leitura, mas não tanto quanto a leitura do seu livro anterior, Os Buddenbrook, que eu achei mais fluido e mais cheio de eventos memoráveis.

4. Carrie, por Stephen King – tradução de Regiane Winarski
208 páginas • Suma de Letras

A vida não é fácil para Carrie White. Oprimida pela mãe, uma fanática religiosa que faz questão de isolar a filha de todo e qualquer tipo de diversão e prazer, Carrie não se sai muito melhor no ambiente escolar. Tímida e recatada demais para os padrões adolescentes, ela sofre bullying constante e as coisas só pioram quando ela tem a sua primeira menstruação tardia (aos 16 anos) em pleno vestiário e pensa que está com uma hemorragia interna. Esse episódio humilhante, mas aparentemente inocente, vai desencadear uma série de eventos irreversíveis na vida de Carrie e de todos ao seu redor. Isso porque a jovem possui um poder que ninguém (além de sua mãe) tem conhecimento: ela é telecinética, ou seja, consegue mover objetos com a força da mente. Romance de estreia de Stephen King, o livro foi adaptado em 1976 para o cinema; o filme foi dirigido pelo Brian de Palma e tem a fantástica Sissy Spacek como Carrie. Talvez por eu ter o filme super fresquinho na minha memória, não me empolguei tanto com a história ~ já que eu sabia exatamente o que iria acontecer em seguida. A parte final (os eventos depois do baile de formatura) me surpreendeu mais, justamente por ter mais detalhes e um desdobramento não explorado em sua totalidade no filme. Fiquei surpresa ao descobrir que a personagem é descrita como robusta e grande parte do bullying que ela sofre tem (também) a ver com o seu peso. Até entendo o casting da Sissy Spacek (que é a CARA da magreza) como Carrie por conta do seu talento e fama na época, mas porque não respeitar a descrição física da personagem na capa do livro em PLENO 2022? Fica a pergunta.

Me contem o que vocês andam lendo de bom!
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La fille avec des Roses

La fille avec des Roses (detalhes), François Boucher • 1760s

La fille avec des Roses (detalhes), François Boucher • 1760s

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